Por Cristian Derosa -
Normalmente, quem defende o direito ao aborto hoje não sabe bem
porque o defende, pois advoga uma opinião sobre a qual pouco ou nada
sabe além de meras justificativas retóricas. A motivação nunca aparece
nas palavras de seus defensores e é possível que nem exista neles. As
argumentações se restringem a meras opiniões, dentre elas a de que a
vida não começa na fecundação, alegações de direitos da mulher sobre o
próprio corpo ou na retórica comum de que uma vida de pobreza, sem
educação de qualidade, ou com pais separados, seja muito pior e
destruidor na vida de uma criança do que a eliminação física dessa
vida.
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Há outras argumentações, mas a maioria delas se baseia nestas poucas
justificativas para a fuga de responsabilidades sejam individuais ou
sociais. Afinal, se a defesa do corpo da mulher, esquecendo-se que ali
há outro ser humano, é uma fuga de responsabilidade, também a alegação
sobre o mal dos meninos de rua e crianças desamparadas é uma fuga da
responsabilidade social, da caridade e da compaixão.
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Há feministas que dizem que a decisão do aborto sempre esteve nas
mãos dos homens. É verdade. E é fato que o aborto era aceito na
Antiguidade pelos gregos e era defendido pelos filósofos da época. Do
mesmo modo, foi obrigatório para os chineses dos primeiros imperadores e
para os romanos para o controle da natalidade. Embora hoje o aborto
seja uma causa aparentemente feminista, os homens sempre estiveram por
trás da questão. Mas não simplesmente na mera decisão de abortar ou não.
Eles eram, assim como são hoje, os maiores interessados que a mulher
abortasse, o que torna a feminista uma pobre idiota útil, mulher objeto
de grandes organizações que buscam inutilizar o seu papel na sociedade,
reduzindo-a a homens mal acabados.
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O Cristianismo tornou o aborto por séculos como uma prática
reprovável e intrinsecamente maligna, embora sempre houvesse quem o
praticasse e o defendesse dentro da Igreja, de fato como há em nossos
dias.
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Mas com o Iluminismo e a chamada Renascença, a ameaça de excomunhão
perdeu legitimidade assim como o perigo de danação eterna. Na
mentalidade moderna que se desenvolveu da filosofia iluminista, o homem
transferiu a idéia de salvação para a esfera pública e política, na
emancipação do homem enquanto cidadão, substituindo noções como pecado e
graça pelas conveniências sociais e políticas do utilitarismo. Ainda
assim, por muito tempo, o aborto permaneceu como imoralidade e
assassinato covarde, já que se caracterizava pela eliminação de uma vida
inocente em troca do livramento de responsabilidades.
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Já no século XIX, o retorno dos pressupostos eugênicos da antiguidade
coloriram essa prática com motivações e justificativas de suposto tom
altruísta, baseados no ideal da busca por um mundo melhor, mais evoluído
biologicamente e na mais eficiente administração de recursos,
mentalidades de origem técnica que culminam hoje no ambientalismo.
Iniciada nos círculos médicos a partir da herança evolucionista da
biologia, a eugenia teve um percurso sinuoso pelas ciências até
desembarcar na política e durante a primeira metade do século passado
conquistou finalmente seus dignos representantes nos governos da Europa.
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Essa ascensão proporcionou a criação de uma elite letrada,
aficcionada por pesquisas científicas de caráter funcionalista e que,
com o passar dos anos, promoveu financeiramente diversas das soluções
encontradas por seus estudos, buscando levá-las ao alcance de todos. O
mais conhecido patriarca dessa elite foi John Rockefeller que, a partir
do final dos anos 60 e nos anos 70, diretamente e através de suas
organizações, passou a exercer um pesado lobby junto ao governo federal
americano para que este reconhecesse a questão do controle demográfico
mundial como um problema de segurança interna dos Estados Unidos.
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Junto com a Fundação Rockefeller, outros grupos surgiram na esteira
dessa causa, mas suas motivações foram sofrendo alterações. De algum
modo, porém, percebeu-se que não era eficiente aplicar um programa de
esterilização em massa, pois o custo político disso seria alto demais,
ainda mais com o fim da Segunda Guerra e a má reputação que certas
idéias eugenistas. Era necessária uma adesão popular à causa, mesmo que a
massa não conhecesse o real propósito daquilo a que estava aderindo.
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Paralelamente ou propositadamente, desenvolvia-se a propaganda e o
uso de causas como a libertação sexual, o feminismo e o pacifismo como
motor de consumo. Quando Edward Bernays teve a excelente idéia de
transformar o desejo subjetivo em fator motivacional de consumo,
incluiu-se um importante fator de uso para campanhas políticas.
Tornou-se possível, assim, apelar a desejos que se tornavam cada vez
menos saciados, devido à própria essência da técnica da propaganda
moderna (prometer e não cumprir), relacionando-os à cadeias de idéias
que traziam as soluções políticas desejadas pelos engenheiros sociais.
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A motivação de certas causas e ideais contemporâneos, portanto,
associa-se mais a desejos subjetivos do que a demandas reais da
sociedade. Basta comparar os argumentos estatísticos da agenda abortista
com a realidade que perceberemos a flagrante fraude contida ali, o que
evidencia uma origem diversa para o anseio de descriminalização do
aborto, objetivo que parece exigir toda sorte de falsificações para ser
alcançado. E se as fundações historicamente ligadas à eugenia e controle
populacional estão até hoje por trás do lobby do aborto, é porque a
motivação continua a mesma historicamente, isto é, parece-nos improvável
que esta elite internacional tenha se mantido fiel a uma técnica cujo
objetivo inicial não comungam mais.
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Dessa forma, estas instituições internacionais provocam, por meio do
controle da mídia e da propaganda, uma gama variada de desejos
subjetivos estimulados ao longo de muitas décadas, por meio do
financiamento de causas aparentemente políticas contando assim com as
justificativas emocionais do infantilismo social calculado para isso.
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Mas parte das motivações verdadeiras por trás de todo esse processo,
ou seja, objetivos das fundações que controlam o processo também vão
sendo trabalhadas paralelamente e se desenvolvem nas mentes de forma
quase natural devido o próprio processo de desumanização. Isso ocorre
subliminarmente, por meio destes mesmos apelos sensitivos aos desejos
mais superficiais. Por exemplo: tomados pelo hedonismo que a constante
preocupação em saciar desejos constrói nas personalidades, os homens e
mulheres chegam à lógica conclusão do utilitarismo como concepção de
vida, de moral e de beleza. Os devaneios artísticos e arquitetônicos do
século XX não nos deixam mentir.
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Com isso, a concepção oculta do abortismo, feminismo, gayzismo etc,
se torna aquela motivação inicial que os engenheiros sociais desejavam. O
subjetivismo da cultura pós-moderna esconde uma mentalidade técnica
desumana e cruel, sutilmente maquiada pela retórica do politicamente
correto.
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Vivemos uma sociedade de engenheiros porque a engenharia passou
a saciar os anseios por eficiência. Engenheiros sociais,
comportamentais, existenciais, religiosos. Engenheiros da satisfação,
técnicos do prazer e do conforto. Vivemos o império dos modernistas
pós-modernos, dos tecnicistas holísticos e do positivismo Nova Era..
Portanto, apesar do desejo subjetivo por trás das demonstrações
estatísticas enfatizarem uma irracionalidade e provável ignorância em
relação ao assunto, há um profundo desejo de controle racional e técnico
do mundo com o fim último da satisfação eterna de poder e domínio das
vontades individuais alheias, que serão esmagadas por uma vontade
individual monolítica ao mesmo tempo que alardeia a multiplicidade
caótica. É o subjetivismo totalitário que une o individualismo mais
abjeto ao coletivismo mais tétrico e assustadoramente ordenado.
Cristian Derosa.
Algumas referências:
John Coleman – O Instituto Tavistock de relações humanas, 2003
PAULO II, João. Constituição Apostólica Fidei Depositum. Petrópolis: Vozes, 1993. (Catecismo da Igreja Católica).
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