Embrião humano: perguntas, respostas e verdades que incomodam muita gente.
Quando eu era criança, diversas vezes fui
na famosa Feira de Acari, no Rio de Janeiro, com meu avô. Me recordo
que uma vez ele me mostrou uma pessoa que vendia pardais pintados com
tinta amarela como se fossem canários belgas. Perguntei ao vovô se as
pessoas não descobriam a fraude e ele disse: “Eles só vendem para quem
não tem experiência, pois no primeiro banho que o passarinho tomar vão
descobrir a fraude, mas será tarde demais e o vendedor terá sumido com o
dinheiro”.
Hoje vejo a história se repetindo de
forma bem mais grave e dolorosa. Infelizmente nossos embriões estão
sendo pintados e vendidos pelo que eles não são. A diferença é que ao
invés de usar tinta, usam-se as palavras para enganar o povo. Como
costumo dizer, a discussão sobre o valor da vida humana caiu nas garras
da semântica. Uma análise honesta da realidade acerca dos embriões
mostra que, escondidas por baixo dos panos, estão camufladas as
intenções da cultura de morte. E como as práticas contra a vida são
rejeitadas pela sociedade em geral, as palavras são a fantasia macabra
deste baile da morte. Pior de tudo, nosso povo não está comprando gato
por lebre, mas morte por vida.
Para iluminar um pouco mais esse assunto, trago abaixo trechos de uma saborosíssima entrevista com o filósofo Fabrice Hadjadj, diretor de Philanthropos,
o Instituto Europeu de Estudos Antropológicos (Friburgo, Suíça), onde
ele faz uma análise bastante pertinente do status do embrião humano,
denunciando a desonestidade semântica e científica daqueles que desejam
insensibilizar a sociedade diante do valor da vida de um embrião humano.
A nova arma desta política de insensibilização da sociedade perante um
ser humano que ainda habita o útero da mãe é a afirmação médica
pseudo-infalível de que “o embrião não é uma pessoa”. Fabrice afirma que
a sociedade rejeita a ideia de se referir ao embrião como pessoa porque
admitir isso significa reconhecer que matá-lo é assassinato.
Segue abaixo alguns trechos da entrevista
que foi gravada em resposta a um professor que afirmou num famoso
jornal europeu que “o embrião não é uma pessoa humana” e que proibir a pesquisa com embriões humanos seria “incoerente e retrógrado”.
Muitos afirmam que “o embrião não é uma pessoa”. O que você pensa sobre isso?
É interessante: nunca procuraram um filósofo para praticar uma
reprodução assistida, mas sempre perguntam aos médicos sobre questões
filosóficas.
Eu gostaria de recordar que a noção de “pessoa” é um
conceito metafísico, de origem teológica inclusive, e que não podemos
empregá-lo superficialmente. Por outro lado, não sei se você percebeu,
mas nós nos esforçamos em dizer “embrião“. Mas do que estamos falando? De um embrião de vaca, de macaco? Não: trata-se de um embrião humano.
Frydman disse que “um olho não preparado não consegue ver a diferença entre um embrião de rato e um embrião humano”. Mas será que ele implantaria um embrião de rato nas mulheres que solicitam uma reprodução assistida? Por que não, se não existe diferença alguma? A evidência é que o embrião sobre quem estamos falando é humano. Nenhum cientista pode negar isso.
No entanto, eliminar um ser humano é um homicídio. Fazer do ser
humano um material excedente é o cúmulo da exploração. E, com isso, não
estou emitindo um juízo de valor. Pode haver motivos para ser um
homicida, e numerosos Estados, em nome do progresso, legalizaram a
exploração e manipulação dos humanos. O que eu rejeito, como filósofo, é
que as pessoas se neguem a chamar o gato de “gato”, e que fiquemos fazendo rodeios para dissimular.
Se as coisas estão tão claras, por que ainda existe este debate?
Um texto de Bertrand Monthubert, ex-secretário nacional para a pesquisa, do Partido Socialista francês, publicado em 11 de julho, é bastante significativo.
Cito sua saborosa argumentação, em sua aproximativa gramática: “O embrião não é uma pessoa, a ciência é muito clara sobre isso. Se fosse pessoa, isso significaria que os embriões que foram criados e destruídos nas FIV foram assassinados, e não é este o caso”. Isso é tudo.
Falamos do “embrião” sem concretizar que se trata de um embrião humano. Achamos que o conceito de “pessoa” é claro demais para a ciência. E, como único argumento, apresenta-se a impossibilidade de ser um assassinato.
A negação tem, portanto, duas causas. A primeira é esta palavra, “pessoa“, e a confusão metafísico-jurídica à qual ela conduz. Seria melhor perguntarmos se estamos diante de uma vida humana ou não.
Dado que esta vida é humana, a questão é saber se queremos continuar
tendo o artigo 16 do Código Civil [francês], que estabelece que “a lei
garante o respeito ao ser humano desde o princípio da sua vida”, ou se o
abandonamos.
A segunda causa é a dificuldade de reconhecer que, ao seguir uma
lógica tecnicista, criamos uma situação irresolúvel e insustentável,
diante da qual nossa consciência está desorientada. Efetivamente, estes
50 mil humanos congelados, que gostaríamos de usar como reagentes em
laboratórios farmacêuticos, são algo inimaginável. Devemos admitir que
fomos muito além de “Admirável mundo novo”, de Aldous Huxley.
Podemos afirmar, ao mesmo tempo, que o embrião humano “não é
uma pessoa” e que “se tornará pessoa” na medida em que for inscrito em
um projeto parental?
Os cientistas que apoiam isso são realmente adeptos da magia. Abracadabra! Eu quero que seja uma pessoa, e será uma pessoa. Isso não entra no meu projeto e puft! A pessoa desaparece. Estamos verdadeiramente no reino dos aprendizes de bruxos.
Mas esta forma de ver, que faz pensar em magia, é tipicamente
tecnocrática. Seu princípio é que a vontade prima sobre o ser e que,
portanto, todo estado natural, incluindo meu corpo, é apenas um material
que eu posso manipular segundo meus caprichos.
Não deveríamos considerar o senhor retrógrado?
De onde vem esta retórica do “grande salto adiante”? Com ela, Mao
causou 30 milhões de mortes. É bom dar um passo atrás quando estamos à
beira do precipício.
Além disso, o que é retrógrado é não seguir o caminho aberto pelo
Prêmio Nobel de Medicina, o professor Yamanaka, com suas células
reprogramadas, que não apresentam nenhum problema ético. Mas nós
teimamos na pesquisa com embriões
humanos (sem dúvida alguma, como um meio para evitar à nossa consciência
o mal-estar de ter de destruí-los) e deixamos que o Japão se adiante em
métodos que já deram melhores resultados.
Poderíamos dizer que os que se opõem a esta lei são influenciados pela Igreja Católica?
Frydman garantiu isso nas colunas do seu jornal – o que é duplamente
desleal. Primeira deslealdade: fazer acreditar que todos os que se opõem
às suas opiniões são fideístas irracionais. Isso é típico do estilo do
processo stalinista.
Segunda deslealdade: ele se deixa apresentar como o “pai do primeiro
bebê de proveta”. O que aconteceu então com Jacques Testart? Por que já
não se fala dele como pioneiro da fecundação in vitro?
Precisamente porque, sem ser católico, Testart denunciou todos aqueles
que “elogiam religiosamente todas as produções de laboratório”.
Haveria muito ainda a dizer sobre o obscurantismo cientificista e seus fanáticos de hoje.
Fonte da entrevista: Aleteia.org
Fonte: http://blog.comshalom.org/vidasemduvida/embriao-humano-perguntas-respostas-incomodam-gente/
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